segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Até o fim...

Posso me recordar do brilho nos olhos dele quando passou pelos portões do Pacaembu, naquela tarde de domingo. Ele estava emocionado, seu sorriso era totalmente diferente, conseguia ver traços do Vô João ali. Ele havia falado do domingo a semana toda.

Subimos aos poucos os lances de escada que levavam a parte mais alta do estádio, suas perninhas faziam o maior esforço para me chegar rápido ao topo. Podia ouvir a risada morna do Gi logo atrás de nós dois.

– Ali primo! – apontou o Gi para três lugares vagos no meio da fileira.

Ele estava entusiasmado com a quantidade de gente, não parava de comentar de como o estádio estava pintado de preto e branco, e perguntando sobre o que era cada coisa que eu mal podia acompanhar o ritmo de suas dúvidas. Seus olinhos buscavam ver tudo com uma velocidade incrível:

– Me lembra você Cabeção, quando veio a primeira vez.

– Faz muito tempo, meu. Como você lembra? – o Gi respondeu.

Como eu podia esquecer, meu primo, meu fiel companheiro de domingos com o Timão tinha dormido no primeiro jogo dele. E assim como o Luiz Guilherme, Giovanne era espetacular em fazer perguntas complicadas, e não foi diferente naquela tarde.

– Pai, como você virou corintiano?

O rapaz ao nosso lado sorriu e disse que corintiano não virava, nascia.

– Ele tem razão, filho. Nossa raça não vira, nasce. Foi assim comigo, foi assim com o Gi, e você vai descobrir que é assim com você, o Corinthians mora em cada um de nós, ele está impresso na nossa pele, gravado em nossa alma.

– Mas, eu quero saber como foi papai. – ele não iria desistir, então resolvi contar.

– Bom Gui, eu nasci em 1989, um ano antes do nosso primeiro título brasileiro. E o seu bisavô João não me deu muitas chances, ele me deu de primeiro presente uma camisa pequeninha do Timão, que tenho até hoje, e disse que eu tinha que ir ao jogo e não tinha jeito, seria mais um corintiano louco e fanático.

“E assim foi, pequeno, com 1 ano eu fui no estádio a primeira vez, não lembro do jogo, mas lembro do barulho da torcida, dos sons que se faziam ao redor de mim. E isso foi crescendo com 3 anos eu ia quase todo domingo no jogo com seu avô e com ele, eram tardes maravilhosas. Em 95 eu vi o Timão campeão no estádio pela primeira vez, que emoção pequeno, eu chorei muito de alegria.”

“E eu nunca perdi isso de mim, quando o meu avô morreu, eu vi que tinha a obrigação de continuar a tradição da família, logo depois Papai do Céu me deu o Gi, e eu tinha que salvar a alma dele, né Gi?”

“Em 99 eu chorei de dor, uma dor angustiante quando fomos eliminados pelo Palmeiras da Libertadores, mas chorei de alegria em 2000 quando fomos Campões do Mundo. Foi em 2002 que descobri que o São Paulo era nosso freguês mais fiel, e em 2007 que sofri muito, mais que tudo com o rebaixamento.”

“Mas em 2009 tivemos o Ronaldo, em 2011 o Deco veio jogar aqui e mais estrelas no decorrer das décadas. Em 2010, quando fizemos 100 anos de existência, veio a primeira Libertadores, em 2011 o quinto Brasileirão, 2016 a segunda Libertadores e por assim vai...”

– Ta pai, não era isso que eu queria...

– O que era então pequeno?

– Quero um saber o que é ser corintiano, saber se eu sou mesmo...

– É claro que é meu filho, ta no seu coração isso. Ser corintiano é ser mais que ser campeão, é lutar junto, morrer junto, chorar junto...

“É viver a paixão com outros 41 milhões de torcedores, é esperar pelo título calmamente, é amar a esse sentimento chamado Corinthians. É respirar raça, é estar ali com o Timão haja o que houver.”

“Não tem muito como eu te explicar filhão, mas o Corinthians está em você.”

– Mas o vovô Marcos fala que o São Paulo é muito melhor!?

– Mas o São Paulo é time de viado, Gui – disse o Gi – Por isso você tem que ser corintiano.

(risos)

– Não filho, não é por isso. Nosso amor pelo time é incondicional: durante os 23 anos que ficamos sem título, nossa torcida só aumentou. Nunca saímos antes do fim do jogo de um estádio, somos mais presentes, lotamos estádios seja aonde for.

“O lema que você brinca ‘EU NUNCA VOU TE ABANDONAR” é verdade, pequeno. A torcida está sempre ao lado do time, seja pro que for. Você logo vai entender, deixa o jogo começar, logo será mais um louco, como eu, como o Gi, como seu avô Adilson, como meu avô João.”

Sorte minha o jogo ter sido emocionante, 3x1 pro Corinthians contra o Coritiba e de virada. Ah que emoção ver meu filho gritando os cantos da torcida, xingando o juiz, defendendo as cores do meu time.

Naquele momento eu sabia o orgulho que meu pai tinha de mim, por ter seguido sua tradição, seguido seu amor.

Um amor sem fim, um amor incondicional, um amor pra vida toda.

Quando voltávamos para o carro, o Gui estava em meus ombros e disse algo que deixou os pelos da minha nuca arrepiados:

– Pai, hoje foi muito bom. Eu te amo e quero ser corintiano a vida toda.

– Relaxa pequeno, isso é uma doença sem cura. – foram as palavras do meu primo, fiel escudeiro de domingo.

Naquele fim de tarde, o Pacaembu de 1995 veio aos meus olhos e era feliz como uma criança.


“Com razão ou sem razão, o Corinthians tem sempre razão.”


Esse texto foi um sonho que eu tive. Ele foi escrito dia 07/09/2009 às 02h30mim. Um dia eu espero lê-lo e descobrir que não foi apenas um sonho, mas sim uma prévia de um futuro preto e branco, futuro que eu quero construir ao lado da minha são-paulinha, bravinha: Camila.